Serra da moeda, Rola-Moça, Morro do Chapéu, Parque Nacional do Caparaó, Estação Ecológica de Fechos, Nova Lima, Pico Três Irmãos, Brumadinho, Esmeraldas, Lagoa Santa, Rio Acima, Aranhas, Piedade do Paraopeba, Melo Franco, Betim, Sabará, Caeté, bairros Serra, Luxemburgo, Buritis e Calafate em Belo Horizonte.
O que fazer? O que fazer?
Tá queimando, o que fazer?
Tá pegando fogo!
Tem gente morrendo, o que fazer? O que fazer?
Que miséria de vida, que bagunça é essa, tá pegando fogo, tem gente morrendo, que fome, que miséria é essa, tá pegando fogo, olha ali uma bala perdida, o que fazer, tem gente morrendo, tá queimando meu peito, tá pegando fogo, tá queimando!
Queimada
Incêndio
Nuvem densa de fumaça
Massa de ar quente e seco
Atmosfera inerte
Poluentes. Fogo. Fuligem
Cinza e com cheiro de cinzas.
É urgente: aqui eu grito! Cooperar.
Cooperação. Colaboração
Associar-se
Crescer em coletivo
Igualdade
Responsabilidade
Democracia.
É urgente: dia após dia
Poesia
Desenvolvimento social
Estratégias para solidariedade
Solidarizar-se.
Aqui eu grito: É urgente!
Ajudar, distribuir
Valor-Humano
Movimentar, participar, independer
Melhoria. Autonomia.
Avante, Marginais! Avante!
A regra se fez.
por quem se desfez
a sarjeta chegou
a polícia parou
a mulher não viu
a negra se despiu
a indígena caiu
a luz se foi embora, tá pegando fogo
O limite foi acordado por patrões
com carro importado
e veio o juiz
a ponte está por um triz!
A porta fechou
para quem contrariou à regra
a norma tem forma
de carrasco embriagado
e deixa-me tonto, obrigado!
Eu quero despir a farda
quero saber quem é dono da espada
quero saber quem é que fala
o que a gente cala
O desvio é desviado
travesti, transviado
suave
se resolve a sós
como quem desfaz os nós
que a sociedade alinhou.
Se chamam de louco
todo e qualquer pouco
estatisticamente rotulado
por um postulado
de colarinho branco
e alma nada franca
louco, louca, loque quero ser
para compreender
que não é justo
seguir conceitos
pautados em pré-conceitos
intolerância e falta de fé.
Caminho com um pé
e preciso de pés, muitos pés
que é pra deixar o outro cru e nu
sem sapato.
A tão formosa lei
desvia a si própria
com um capital que gira
para o pouco que acha muito
ser normal
É urgente: aqui eu grito!
Cooperar. Cooperação. Colaboração
Aqui eu grito: É urgente!
Avante, avante
É primavera
Avante!
É urgente sair da conduta
Tá pegando fogo
Quero flores, florescer
Flores-ser.
É urgente sair da conduta
Tá pegando fogo.
Sincronicidade recebe nesta primavera uma iniciativa que promete brotar em solos queimados, arco-iris de possibilidades para o que está em cinzas.
Cooperativa de Literatura Marginal são profissionais da área que se juntaram em prol do desenvolvimento de ações de integração econômica dos cooperados nas áreas de Produção Cultural e Educação Social. Poesia, performance e formação em escrita criativa, além de produção de livros e artigos derivados da poesia marginal em MG. Para isso a Cooperativa tem como objetivos básicos o incentivo ao cooperativismo sob seus diversos aspectos, a realização de feiras de literatura marginal e economia solidária, a promoção de oficinas de formação em diversas áreas educativas e artística cultural. Junto a isso coletivas e artistas independentes originários de camadas populares marginalizadas são divulgadas e sua cultura é difundida.
Conheçam, sigam no Facebook: facebook.com/cooperativaliteraturamarginal/
Conheçam três poetas marginais que fazem parte da Cooperativa de Literatura Marginal: Giuliana, Joi Gonçalves e Jazz.
Sou Giuliana, tenho 20 anos e moro na região de Venda Nova (ZN), a palavra se tornou meu refúgio depois de perceber o quão doente por falta de amor estamos, reconhecendo que o afeto nos salva de qualquer maldade do mundo! Faço parte da Coletiva MANAS e da Cooperativa Marginal que inclui outros vários coletivos, participo de feiras literárias, rodas de poesia, também sou dançarina e dou oficinas nessa e é em outras áreas!

Me desculpa a cena.
É preciso se confessar,
É preciso exercer o ato
De desocultar mistérios,
Romper privilégios,
Levar certas virtudes a sério.
É preciso
URGENTEMENTE se confessar,
É preciso abrir o coração
E deixar de lamento,
Pois de tanto medir esforços,
A culpa virou remorso.
Então para
De circular os erros,
LEVANTA,
Se orgulhe
Do que vê no espelho,
Humildade também
Pra cair de joelhos,
Reconhecer-se falho,
Pedir arrego,
Aceitar conselhos,
É preciso ORAR
Por quem não suporta
Seu jeito.
FORÇA!
É preciso se elevar,
Se soltar das amarras,
Das escolhas amargas,
Das pregas carnais,
É preciso quebrar
A ignorância,
Queremos chegar primeiro,
Mas não chegar junto,
E via WI-FI
Tua conexão com o mundo,
E esse COLAPSO
Não se resolve com elevação de contas,
E sim com o retorno às origens!
Disseminamos individualidade,
Mas não solidariedade,
Então chega de intolerância!
Somos capazes de reclamar
Uns dos outros,
Mas incapazes de responder
Uma indelicadeza
Com um sorriso,
Eu sei…
É difícil,
E se não encaramos as falhas,
Jamais seremos dignos das virtudes,
Toma atitude,
Se escute,
Qual tua sede?
O quanto teu coração
Deixou você se envaidecer?
Quantas manifestações de egoísmo?
Quantos abraços falsos
De quem jurou ser teu verdadeiro amigo?
E cadê teu abrigo?
O que te basta
Quando você quer alívio?
É…
É preciso se confessar,
É preciso urgentemente
Se confessar,
Existe diferença entre dar as mãos
E acorrentar almas,
Paciência requer muita prática,
Idade não significa maturidade,
E antes que essa vida passe,
Que possamos nos amar
Com todo sagrado de pureza
Que sejamos capazes de sentir…”
Giuliana.
Joi Gonçalves. Poeta marginal, fotógrafa, arte educadora e diretora teatral. Cursa atualmente comunicação social. Integrante do coletivo Avoante, Coletivoz, Manas e 5só. Autora da zine “as moças não são como antigamente e nem eu” e “a vida é SÓ isso mesmo”. Uma das autoras da coletânea “à luta, à voz”.

Cê tá me confundindo
Não sou ninguém importante
Sou alguém que se importa
E buscando nas minhas memórias
Sou um reflexo de todas as portas
Fechadas
Dos murmúrios “que criança mal criada”
Minha família sabia que eu
Só precisava de atenção
Fiz meu corres
Corri dos closes
Pensei que fosse mais importante…
…Dei bom dia a cavalo
Fiz amizade com os ratos do centro
Desci Bahia
Me perdi subindo floresta
Exagerei nas festas
Bebi misandria
Passei dia
E noite
Procurando um sinal pra continuar
Cansei de palavras que eram minhas
Não queria que me dessem notas
Mesmo sabendo que sempre fui um dez…
…Um desespero em pessoa
Fumei um cigarro
Tossi boêmia
Encontrei alegria no colo do meu par
Dei às costas ao azar
Percebi que faço mais poesia
Quando não escrevo
Mas…
É que eu sou desespero
E meus textos são aconchego
Por ser alguém que se importa
Dei meia volta
Ao mundo
Bati de frente
Causei
Fui expulsas de bares
Porque entrei sem querer em brigas que comecei
Mudei as lentes
Exclui parentes
Não sou obrigada a amar ninguém
Aumentei o tom
Fiquei possessa
Me olhei no espelho
E disse
“Que malcriada você, menina”
…
“Ou vai
Ou fica”
E eu fui
Malcriada
De peito aberto
Com experiência de séculos
Às vezes horas são anos
Abortei planos
Desconfiei certo
Tomei uns canos
Cresci um tanto
E calei
Meu silêncio é poesia também.
Joi.
Jazz poesia, poeta marginal, 22 anos, moradora do Morro das Pedras, reside na poesia marginal desde de 2017, participando de slams, saraus e intervenções pela cidade. Por meio das palavras traz fé, força, e axé! Seu compromisso com as palavras é sempre trazer esclarecimento, e reflexões. Esse ano se integrou a cooperativa de literatura marginal, e vem encantando a cidade com sua poesia. Representou MG em 2017 no Campeonato nacional de poesia, e é autora do zine: “Tudo está dentro!”

Luta armada de palavras, versos oculares.
Poetizemos as margens,
estamos em Terra de diversidade
e a cidade é sincronicidade.
Envie seu texto para [email protected]
Nos vemos!
#ProjetoLiteraturaCompartilhada
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